sábado, 28 de novembro de 2009

Confissão de um Refugiado




Durante algumas lutas que enfrentei na vida, procurei desesperado por um refúgio, mas nos que encontrei não me sentia seguro, por vezes fui encontrado e golpeado até ser paralisado pela dor que consumia cada pedaço de razão e fé que havia dentro de mim. Mas após incessante fuga e procura, encontrei um refúgio onde até hoje me escondo quando o mundo do lado de fora está em meio ao caos. Nesse refúgio me sinto completamente seguro, mas principalmente, me sinto livre do eu que não sou, livre do eu que sou para os outros, me sinto liberto ao ponto de deixar cair lágrimas de arrependimento, de dor, de saudade, de amor.

Nesse refúgio as palavras são como espelhos que vou pendurando à minha volta, de modo que consigo me ver de todos os ângulos, um espelho reflete a imagem de outro espelho, de forma que não há parte de mim que consiga se esconder, assim, posso enxergar com clareza minha própria alma. Nesse refúgio confesso ao silêncio meus medos, meus sonhos, minhas frustrações e esperanças, aqui, me sinto seguro para me despir da armadura que antes me protegia do ataque de todos à minha volta, armadura forjada nas chamas da mentira.

Meus momentos nesse refúgio podem ser descritos como verdadeiros, aqui só existe eu, eu mesmo, minha verdade, aqui deixo minha mente vagar, mesmo sendo um lugar apertado ela consegue ir longe, e formula diversas interrogações que ela mesma se ocupa de responder. Não respostas prontas, não aquelas respostas que escondem a dor que está por dentro, repostas que tentam evitar um novo questionamento. Quando estou nesse refúgio não me furto a dor de responder diversas perguntas que me flagelariam se fossem arquitetadas por outra mente, perguntas que só poderiam ser feitas por mim e por mim respondidas. Já que não há alguém que possa olhar além da armadura. E mesmo que de alguma forma não esperada pessoas consigam transpor a barreira por mim construída, talvez nos momentos em que olham em meus olhos, e vêem minha alma presa clamando para quem está de fora libertá-la, instintivamente fecho os olhos e como um carcereiro arrasto a verdade para trancafiá-la em uma cela que só eu tenho a chave. Poderia considerar esse refúgio como um refrigério à verdade aprisionada em mim, o momento que ela tem para esticar as pernas, sentir o sol na pele, e bater um papo com o seu melhor amigo, o silêncio.

Há pessoas que escolheram por oferecer liberdade à verdade, é um grande risco que se corre, pois ela é demasiadamente frágil, e quando atacada tende a voltar rapidamente ao cativeiro, e cada vez que transfigurada retorna ao cativeiro, retirá-la de lá se torna uma tarefa cada vez mais árdua, até o ponto que não há mais meios neste mundo para fazê-la sair do fundo da cela. Quando pessoas se encontram em tal ponto é fácil de reconhecer, só olhar no fundo dos olhos, e verão que o brilho que antes cegava quem olhava não existe mais, o sorriso que antes curava qualquer mal, tal como a verdade, se encontra trancafiado por lábios secos e amargos.

Creio que cerrar as grades que prendem a verdade não é um caminho fácil de percorrer, mas tem sua recompensa, a leveza no andar, a clareza nas palavras, o sorriso sem inveja ou orgulho, a alma sem mácula, tudo está ali diante dos olhos de quem vê, não há nada mais por trás de quem chora ou sorri, é simples, toda a verdade está ali.

Admito que vivo de modo diverso, sei que este não é o melhor caminho, mas é o que sigo, talvez não vivo o extremo de esconder a todo instante a verdade. Às vezes me observo leve, translúcido, mas são raros esses momentos, sinceramente gosto de dialogar com minha mente, e junto a ela calcular o risco de cada novo passo, e com isso já demonstrei a existência de alguém que não pode ser visto por olhos que não sejam os meus. Assim ofereço aos outros apenas resultados aritméticos meticulosamente calculados, que dependendo do risco do novo passo, trazem em si nenhuma verdade, às vezes parte dela, mas confesso que, raramente a verdade.

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

O Mistério que há em você

Um enigma, um mistério
Como desvendar aquilo que está encoberto
Sem mapas, sem bússola, sem trilha
O meu inocente coração é o meu único guia

Sem rumo me lanço na escuridão dos seus olhos
Tentando roubá-los para saber como vê a mim e ao mundo
Como desvendar esse mistério, saber quem eu sou
E em que janela está debruçada a me observar

Talvez ao pôr-do-sol abra a janela do amor
E com um lindo sorriso, suspira e me deseja
Talvez ao pôr-do-sol abra a janela da indiferença
E sorri para todos o mesmo sorriso

Talvez na chuva queira dançar comigo
Ou talvez na chuva me queira como um amigo
A mesma chuva que rega o desejo com lágrima se mistura
Ao saber que na chuva queria a todos menos aquele que te procura

Decidi que não posso mais guiar-me pelo tempo ou pelo clima
Meu coração não se importa se a luz é da noite ou se é do dia
Meu coração só se importa com a luz dos seus olhos que irradia
O mistério que transforma minha vida em agonia

Seu sorriso, sua voz, seu toque
Me fazem acreditar que da janela do amor está a me observar
Seu olhar indiferente, sua fuga, seus braços sem seus abraços
Me fazem chorar ao pensar em que janela está a me olhar

Sem norte, sem rumo, me diz para onde devo seguir
Dê uma dica , uma pista, o que vê quando olha pra mim?
Não posso dar um passo, ou posso dar muitos
Posso parar, desistir, ou lutar por um prêmio que nunca existiu

Assim eu me sinto vulnerável e inseguro
Por que não consigo ser forte quando está no meu mundo?
É só olhar para mim, meus pés tremendo,
Minhas mãos suando, minha voz na garganta se prendendo

Perco a poesia perante sua beleza
Me sinto fraco sem nenhuma defesa
Meu olhar diz tanto sobre você e eu
As máscaras caem não consigo esconder os desejos meus

Como eu faço pra te desvendar?
Se seu olhar e seu corpo não querem me revelar
Vou arriscar a sofrer, a te perder para saber
Quem sou eu para você?

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Talvez

A cada passo do meu dia tento entender porque me sinto tão bem perto de ti. Talvez seja pelas paixões que temos em comum. Talvez eu precise da luz do teu sorriso tal como as flores do campo dos raios do sol que lhes dá vida. 

Talvez seja a tua voz, bela como o som de rios que caminham lentamente por meio de um bosque habitado somente pelo canto dos pássaros. Talvez, pois mesmo que as palavras faltem, o silêncio entre nós não é uma barreira, talvez seja mais bem visto como uma ponte que me leva aos teus olhos reluzentes e misteriosos como a noite e as estrelas, quando as palavras se vão uma sinfonia se inicia regida pela emoção, são respirações ofegantes, ossos que tremem, almas que gemem, todos ritmados pelas batidas do meu coração, infinitos sons divinamente harmoniosos, talvez seja isso, música.

Talvez seja o vazio que há em mim desesperado para preenchê-lo me iludo tal um andarilho no deserto, talvez o teu amor seja a minha miragem. Talvez seja a minha inocência que me arrasta para perto de ti, coração de menino que pensa conhecer todo o mar, tolo coração! Que do mar só conhece gotas. Talvez esteja seguindo uma bússola perdida que aponta como norte uma armadilha, que meu coração nem desconfia. E eu que achava que o caminho seria tranqüilo sem surpresas hoje não sei nem para onde seguir, enquanto eu caminhava em tua direção furtastes minha certeza, minha luz.

Talvez tu não estejas onde penso te encontrar, nesse escuro fica difícil construir qualquer afirmação, talvez a cada passo possa ver com clareza que me iludi, e volte recolhendo cada parte do meu coração por entre as rochas, esse caminho, o caminho de volta conheço bem, já o percorri diversas vezes, já que tudo não passava de um fruto amargo da minha fértil imaginação, me lembro de já ter te visto em milhões de rostos, já te chamei por diversos nomes, quando enfim não voltarei? Nessa escuridão me sinto sufocado em meio tantas interrogações sem respostas, mas cheias de talvez, será que passei por ti na rua? Será que nunca vi teu rosto? Será que estás ao meu lado e não vejo? Será que estás no meu passado, ou em meu presente, talvez esteja em meu futuro.

Assim caminho na incerteza de cada passo, em uma estrada traiçoeira me arrisco, tentando recuperar as forças a cada queda, a cada ferimento, a cada lágrima. Lembro-me que quando me furtastes, esquecestes de olhar bem no fundo do meu coração, onde guardo as coisas mais preciosas, lá mantenho um restinho de certeza, certeza que ignoram perguntas de quando, como ou onde, uma certeza serena, sem sombra de ansiedade ou de aflição, certeza que em meio às incertezas me faz crer que irei te encontrar. E enfim me sentirei bem ao teu lado por longos dias. Talvez seja o amor.